sábado, 4 de agosto de 2012

Slash: " Não tenho uma banda para me atrapalhar"




Você falou que queria fazer um disco ‘épico’. Acha que conseguiu?

Slash: Bem, nós chegamos a trabalhar numa música chamada epic para esse álbum, mas nós não conseguimos finalizar o arranjo e ela acabou ficando de fora. Mas as músicas do disco passam pelos mais variados ritmos e andamentos. Acho que pegamos toda a miríade. De imediato, parece aquele disco de Rock’n’Roll com pegada bem tradicional, mas conforme você vai ouvindo percebe que está indo por caminhos bem diversos. E para mim é isso que dá esse sentido épico para ele. Não é um disco ao estilo do Yes, nem uma aventura musical que pretende chocar as pessoas. É um disco de Rock, mas que leva você através de uma jornada com começo, meio e fim, não é uma coisa repetitiva.

Há detalhes bem claros de Rolling Stones, Led Zeppelin e Aerosmith no Apocalyptic Love. As bandas mais modernas não significam nada para você?

Slash: Quando eu penso em bandas mais modernas de que eu gosto, invariavelmente são Metal. Não é tudo que eu gosto, mas tem muita coisa boa ai. O novo disco do Mastodon é incrível, o do Lamb Of God também. O Machine Head também é ótimo. São as melhores coisas que tenho ouvido, mas são de um Metal mais extremo, o que não é a minha praia. Mas são trabalhos muito bem feitos e excelentes dentro de seu gênero.

E sobre as novas bandas de outros estilos de Rock?

Slash: Quando você fala desse novo Rock’n’Roll, acho que estão deixando escapar a essência da coisa. O Rock de hoje é divertido e cumpre sua função, mas não tem nada que me inspire como aconteceu com as bandas clássicas. Parece que a turma de hoje perdeu a sinceridade e a atitude. Eles podem até falar ‘fuck you’ no disco, mas estão deixando a atitude de lado.

Tem alguma banda mais nova em que você veja essa atitude sincera do Rock’n’roll?

Slash: As útlimas banda que me disseram algo são dos anos 90. Queens Of The Stone Age, Alice In Chains, Soudgarden, Nirvana e toda essa turma, especialmente Rage Against The Machine, que eu achava interessante e inovadora. E fui grande fã de Alice In Chains e Soundgarden, aliás. Continuo sendo.

Então, as bandas novas não dizem nada a você...

Slash: O fato é que eu não encontro nada que me inspire na nova música que tenho ouvido. Eu não me incomodo por passar por um desses sujeitos que odeia tudo que é novo e só escuta coisas das antigas. Ainda estou procurando por algo que me faça sentir o mesmo que sinto com Rock’n’Roll.

Em Slash, seu primeiro disco solo, você convidou diversos cantores para participarem. Você acha que isso deu clima de ‘ao vivo’ para o álbum se comparado com Apocalyptic Love?

Slash: No disco anterior eu gravei junto com baixo e bateria porque acho que é assim que uma banda deve tocar. Eu sempre refazia as partes de guitarra depois disso, já que não dava para gravar usando fones, porque ele não reproduz com precisão toda a ambiência da banda tocando.



E ai Erick Valentine, o produtor, criou a ‘Slash Box’

Slash: Exato, ele criou uma sala especial para mim (N.R conhecida como ‘Slash Box’). Nesse ambiente, eu poderia tocar ao vivo com a banda mas em outra sala. Então, não precisava usar fones de ouvido e podia gravar junto com a banda. Durante toda minha carreira estive procurando alguém que pudesse me ajudar nisso.

O fato de usar fones interfere na sua abordagem na guitarra?

Slash: Não importa o quanto alto esteja, nos fones ele vai soar miúda e com timbre abafado. Não existem fones de ouvido que reproduza de maneira fiel o som de uma guitarra.

Os solos de Apocalyptic Love têm uma pegada tão furiosa que a gente fica com medo de que a qualquer momento você venha a errar uma nota!

Slash: É como estar com fogo nas calças o tempo todo! (risos) O segredo em se tratando de um solo é procurar não pensar muito quando está fazendo. É mais uma questão de deixar a melodia levar você de forma que você se envolva emocionalmente com ela. É exatamente como cantar, você busca as notas que sente que a música pede de você.

Trabalhar com Brent Fitz (bateria) e Todd Kerns (baixo) é muito diferente de Steven Adler e Duff McKagan, do Guns N’ Roses?

Slash: Na verdade, não. Até me lembra os tempos de Steven e Duff na medida em que ambos têm um bom entrosamento e sabem exatamente o que devem tocar. Então, não é muito diferente, ao menos para mim.


Você manteve Myles Kennedy como vocalista em Apocalyptic Love.

Slash: Quando estava gravando meu primeiro disco solo, eu nem imaginava que no fim seria Myles que cantaria no disco. Ele foi o ultimo a ser confirmado. Eu não sabia quem chamar para fazer os vocais. Tinha ouvido falar de Myles há tempos, mas nunca tínhamos nos encontrado. Um dia, tive um estalo: ‘Talvez esse Myles seja o cara. Parece que ele é bom, vamos ver o que acontece.’ Então, entrei em contato, falei do disco e mandei duas músicas para ele. Logo em seguida, ele me devolveu as duas com uma performance realmente boa, ótimas letras e belas linhas melódicas. No fim, ele gravou essas duas, Starlight e Back From Cali.

You’re A Lie foi o primeiro single, e a música tem um riff bem complexo.

Slash: Eu não sou daquele tipo de músico que prefere linhas mais complicadas. Apenas registro aquilo que para mim soa bem. Algumas vezes, pode surgir algo um pouco mais complexo, mas isso nunca acontece de forma tradicional. Muito do que faço vem de Rolling Stones e Jimi Hendrix, algo que o pessoal do Heavy Metal não costuma usar.

Apocalyptic Love ´eum belo tema e você usa muito wah-wah. Além disso, tem uma bela linha vocal. Você se envolve nessa parte, também?

Slash: Às vezes, sim, mas ainda estou aprendendo a mexer com letras e melodias vocais. É algo muito especifico. Eu até fico meio envergonhado porque quando você tem um vocalista talentoso, ele certamente vai fazer isso melhor que você. E Myles é particularmente ótimo na hora de criar melodias, você manda a música para ele e pode ficar tranguilo. Ele trabalha muito duro, se concentra e quebra a cabeça até achar a melodia correta. Às vezes ele chega até a criar três melodias para a mesma música, daí traz todas para mim para que escolhamos uma. E sempre as três ótimas!

One Last Theill parece que tem um quê de Jimmy Page no solo.

Slash: Existe um quê de Jimmy Page em tudo que eu faço. Essa música era originalmente acústica e Myles me surpreendeu com o que fez com ela. Ele criou uma outra parte para ela e transformou-a num tema elétrico com uma pegada totalmente Rolling Stones. Demorou para essa música ficar do jeito que está na gravação. Tocamos a música umas cinco ou seis vezes antes de deixá-la como eu achava que deveria ficar em termos de instrumental. Só então comecei a trabalhar no solo.

A sonoridade de seus solos são sempre facilmente reconhecíveis. Você consegue descrever o timbre da guitarra de Slash?

Slash: Nunca me preocupei em ser tão analítico. Mas eu me sinto muito feliz por ouvir comentários como esse que você fez. Sabe de uma coisa? Ou sou muito inseguro em relação às coisas que faço.


Como você cria um solo?

Slash: Bem, eu sei que na questão técnica eu sou limitado. Mas há uma dose de energia que eu coloco lá para compensar isso. E tento fazer sempre algo bem com a minha cara, que as pessoas ouçam e saibam que sou eu tocando.

Standing In The Sun é uma das músicas de Apocalyptic Love que você escreveu há mais tempo, certo?

Slash: Na verdade, toda elas já estavam escritas, mas essa é uma daquelas que a gente lembra...(risos) Acontece que ela é curta e simples. Eu também já havia começado Apocalyptic Love mas não tinha tido tempo de concluir.

Eu achei o riff da introdução de No More Heroes lembra um pouco o de Sweet Child ‘O Mine.

Slash: Sabe por que você teve essa impressão? Porque é o mesmo tipo de estrutura, um riff desenvolvido em cima de um arpejo. Em todo desço meu acabo fazendo um riff assim. Para mim, é como se estivesse tocando piano, eu gosto muito dessas frases criadas em cima de um acorde dedilhado. Sempre curti muito esse tipo de frase. Em outra música de Apocalyptic Love tem esse recurso. Ouça You’re A Lies e perceba como ela tem um riff que é parte de um acorde digitado nota a nota.

Há guitarras harmonizadas em Not For Me?

Slash: É uma guitarra só. Que dizer, há duas guitarras nessa música porque Milys também gravou, mas na parte que soa harmonizada é apenas a minha guitarra.

Essa música tem muita guitarras limpas.

Slash: Sim, é isso mesmo. Ela foi escrita num violão, mas eu não queria grava-la nesse formato, então gravei com uma guitarra no canal limpo do amplificador.

As texturas da guitarra foram gravadas pó Myles?

Slash: Exato. Ele usou três instrumentos: uma Les Paul Junior, uma SG e uma Grestsh semiacústica.

Halo tem uma bela introdução e se trasforma num riff pesado e com muito ‘groove’.

Slash: Eu adoro essas introduções que parecem estar levando-o para algum lugar que você não sabe qual é. Algumas delas são na verdade partes de estrutura da música, mas às vezes não há relação nenhuma entre as duas coisas. Você começa construindo uma coisa e ela se transforma em algo totalmente diferente.

Anastacia foi gravada com violão com cordas de náilon?

Slash: Exato. E o inicio eu toquei sem palheta, também. São linguagens musicais pelas quais de vez em quando eu gosto de me aventurar. Há muito tempo, eu fiz um tema instrumental para um filme (N.T o filme, de 1996, chamase “Cuedled – em português, “Eles Matam e Nós Limpamos”; o tema com que Slash participa da trilha é Obsession Confession). Nessa música espanhola em geral. Na época do Guns N’ Roses, também usei essa escola na parte final de um tema em que eu passo do elétrico para um tema espanhol no violão. Eu sempre gostei muito de violão. Afinal, meu primeiro instrumento foi um violão flamengo.



Em Bad Rain dá até pra ouvir seus dedos se movendo nas cordas da Les Paul.

Slash: Há muitos momentos em que é possível ouvir os dedos se movendo no braço do instrumento. Não é algo que eu fiz de propósito, mas optei por deixar isso lá.

Shots Fired também tem uma bela introdução.

Slash: Concordo. E também tem um acorde de três notas que eu toquei sem palheta.

Vai sair um DVD de Apocalyptic Love com MartiVision?

Slash: Sim, vai. Você conhece esse sistema MatiVison?

Sinceramente, não.

Slash: Não se sinta mal, eu também não conhecia...(risos) Foi meu empresário que me explicou o que é e depois cheguei a ver isso funcionando. Você instala diversas câmeras cobrindo toda área que quer filmar, possibilitando uma visão em 360 graus. É possível mover essas câmeras, modificando os ângulos e mostrando canas aos lados, acima a abaixo usando o mouse. É simplesmente impressionante! Eu vi um show da banda Muse gravado com esse recurso. Você pode ir para o meio do publico, para trás do guitarrista, acima da bateria e o que mais quiser. Então, vamos fazer o vídeo assim em estúdio tocando todas as músicas do disco. Quem estiver assistindo vai poder usar o mouse para ir para qualquer canto do estúdio.

No fim das contas, você considera Apocalyptic Love uma continuação perfeita para Slash?

Slash: Acho que esse novo disco nos levou um degrau acima. Na minha opinião, esses dois disco foram uma grande jornada que me permitiram dar a cara pra bater e provar para mim mesmo que eu sou capaz de fazer um trabalho como artista solo. Não tenho uma banda para me atrapalhar. Talvez a palavra não seja essa, mas quando você está numa banda, fica à mercê dela e de tudo que ela faz. Então é ótimo se ver livre disso. Mesmo que hoje sejamos um grupo, posso fazer o que bem entender e isso é muito legal.

Quando você ensaia música do Guns N’ Roses ou do Velvet Revolver, você começa a se lembrar da época em que elas foram escritas?

Slash: Eu não tenho esses momentos que você pode chamar de ‘sentimentais’ ou alguma outra palavra que defina isso melhor. O momento em que estou preparando um show não é exatamente de relaxamento, é um a fase de muito trabalho e eu não costumo perder tempo pensando nessas coisas.

Você costuma ouvir guitarrista de outros gêneros musicais?

Slash: Paco de Lucia é um músico que eu ouvir muito. Minha avó me mostrou o trabalho de Segovia – parece que os avós querem muito que a gente escute Segovia... (risos) Mas ela também me mostrou Les Paul, Chet Atkins e todo o pessoal dessa escola, e eu adorei. Não foi algo imediato, já que naquela época eu queria ser um violonista de flamengo, mas logo percebi o ‘feeling’ que havia naquela música. E quando você fala de guitarristas de Rock, lá estão Ritchie Blackmore e Jimi Page. Esse são caras que sempre tiveram talento para ir buscar coisas de outros estilos e aplicá-los no Rock.

POR: Steven Rosen

FONTE:Entrevista publicada originalmente na revista Roadie Crew n° 161

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