Você falou que
queria fazer um disco ‘épico’. Acha que conseguiu?
Slash: Bem, nós chegamos
a trabalhar numa música chamada epic para esse álbum, mas nós não conseguimos
finalizar o arranjo e ela acabou ficando de fora. Mas as músicas do disco
passam pelos mais variados ritmos e andamentos. Acho que pegamos toda a
miríade. De imediato, parece aquele disco de Rock’n’Roll com pegada bem
tradicional, mas conforme você vai ouvindo percebe que está indo por caminhos
bem diversos. E para mim é isso que dá esse sentido épico para ele. Não é um
disco ao estilo do Yes, nem uma aventura musical que pretende chocar as
pessoas. É um disco de Rock, mas que leva você através de uma jornada com
começo, meio e fim, não é uma coisa repetitiva.
Há detalhes bem
claros de Rolling Stones, Led Zeppelin e Aerosmith no Apocalyptic Love. As
bandas mais modernas não significam nada para você?
Slash: Quando eu penso em
bandas mais modernas de que eu gosto, invariavelmente são Metal. Não é tudo que
eu gosto, mas tem muita coisa boa ai. O novo disco do Mastodon é incrível, o do
Lamb Of God também. O Machine Head também é ótimo. São as melhores coisas que
tenho ouvido, mas são de um Metal mais extremo, o que não é a minha praia. Mas
são trabalhos muito bem feitos e excelentes dentro de seu gênero.
E sobre as novas
bandas de outros estilos de Rock?
Slash: Quando você fala
desse novo Rock’n’Roll, acho que estão deixando escapar a essência da coisa. O
Rock de hoje é divertido e cumpre sua função, mas não tem nada que me inspire
como aconteceu com as bandas clássicas. Parece que a turma de hoje perdeu a
sinceridade e a atitude. Eles podem até falar ‘fuck you’ no disco, mas estão
deixando a atitude de lado.
Tem alguma banda
mais nova em que você veja essa atitude sincera do Rock’n’roll?
Slash: As útlimas banda
que me disseram algo são dos anos 90. Queens Of The Stone Age, Alice In Chains,
Soudgarden, Nirvana e toda essa turma, especialmente Rage Against The Machine,
que eu achava interessante e inovadora. E fui grande fã de Alice In Chains e Soundgarden,
aliás. Continuo sendo.
Então, as bandas
novas não dizem nada a você...
Slash: O fato é que eu
não encontro nada que me inspire na nova música que tenho ouvido. Eu não me
incomodo por passar por um desses sujeitos que odeia tudo que é novo e só
escuta coisas das antigas. Ainda estou procurando por algo que me faça sentir o
mesmo que sinto com Rock’n’Roll.
Em Slash, seu
primeiro disco solo, você convidou diversos cantores para participarem. Você
acha que isso deu clima de ‘ao vivo’ para o álbum se comparado com Apocalyptic
Love?
Slash: No disco anterior
eu gravei junto com baixo e bateria porque acho que é assim que uma banda deve
tocar. Eu sempre refazia as partes de guitarra depois disso, já que não dava
para gravar usando fones, porque ele não reproduz com precisão toda a ambiência
da banda tocando.
E ai Erick
Valentine, o produtor, criou a ‘Slash Box’
Slash: Exato, ele criou
uma sala especial para mim (N.R conhecida como ‘Slash Box’). Nesse ambiente, eu
poderia tocar ao vivo com a banda mas em outra sala. Então, não precisava usar
fones de ouvido e podia gravar junto com a banda. Durante toda minha carreira
estive procurando alguém que pudesse me ajudar nisso.
O fato de usar
fones interfere na sua abordagem na guitarra?
Slash: Não importa o
quanto alto esteja, nos fones ele vai soar miúda e com timbre abafado. Não
existem fones de ouvido que reproduza de maneira fiel o som de uma guitarra.
Os solos de
Apocalyptic Love têm uma pegada tão furiosa que a gente fica com medo de que a
qualquer momento você venha a errar uma nota!
Slash: É como estar com
fogo nas calças o tempo todo! (risos) O segredo em se tratando de um solo é
procurar não pensar muito quando está fazendo. É mais uma questão de deixar a
melodia levar você de forma que você se envolva emocionalmente com ela. É
exatamente como cantar, você busca as notas que sente que a música pede de
você.
Trabalhar com Brent
Fitz (bateria) e Todd Kerns (baixo) é muito diferente de Steven Adler e Duff
McKagan, do Guns N’ Roses?
Slash: Na verdade, não.
Até me lembra os tempos de Steven e Duff na medida em que ambos têm um bom
entrosamento e sabem exatamente o que devem tocar. Então, não é muito
diferente, ao menos para mim.
Você manteve Myles
Kennedy como vocalista em Apocalyptic Love.
Slash: Quando estava
gravando meu primeiro disco solo, eu nem imaginava que no fim seria Myles que
cantaria no disco. Ele foi o ultimo a ser confirmado. Eu não sabia quem chamar
para fazer os vocais. Tinha ouvido falar de Myles há tempos, mas nunca tínhamos
nos encontrado. Um dia, tive um estalo: ‘Talvez esse Myles seja o cara. Parece
que ele é bom, vamos ver o que acontece.’ Então, entrei em contato, falei do
disco e mandei duas músicas para ele. Logo em seguida, ele me devolveu as duas
com uma performance realmente boa, ótimas letras e belas linhas melódicas. No
fim, ele gravou essas duas, Starlight e Back From Cali.
You’re A Lie foi o
primeiro single, e a música tem um riff bem complexo.
Slash: Eu não sou daquele
tipo de músico que prefere linhas mais complicadas. Apenas registro aquilo que
para mim soa bem. Algumas vezes, pode surgir algo um pouco mais complexo, mas
isso nunca acontece de forma tradicional. Muito do que faço vem de Rolling
Stones e Jimi Hendrix, algo que o pessoal do Heavy Metal não costuma usar.
Apocalyptic Love
´eum belo tema e você usa muito wah-wah. Além disso, tem uma bela linha vocal.
Você se envolve nessa parte, também?
Slash: Às vezes, sim, mas
ainda estou aprendendo a mexer com letras e melodias vocais. É algo muito
especifico. Eu até fico meio envergonhado porque quando você tem um vocalista
talentoso, ele certamente vai fazer isso melhor que você. E Myles é particularmente
ótimo na hora de criar melodias, você manda a música para ele e pode ficar
tranguilo. Ele trabalha muito duro, se concentra e quebra a cabeça até achar a
melodia correta. Às vezes ele chega até a criar três melodias para a mesma
música, daí traz todas para mim para que escolhamos uma. E sempre as três
ótimas!
One Last Theill
parece que tem um quê de Jimmy Page no solo.
Slash: Existe um quê de
Jimmy Page em tudo que eu faço. Essa música era originalmente acústica e Myles
me surpreendeu com o que fez com ela. Ele criou uma outra parte para ela e
transformou-a num tema elétrico com uma pegada totalmente Rolling Stones.
Demorou para essa música ficar do jeito que está na gravação. Tocamos a música
umas cinco ou seis vezes antes de deixá-la como eu achava que deveria ficar em
termos de instrumental. Só então comecei a trabalhar no solo.
A sonoridade de
seus solos são sempre facilmente reconhecíveis. Você consegue descrever o
timbre da guitarra de Slash?
Slash: Nunca me preocupei
em ser tão analítico. Mas eu me sinto muito feliz por ouvir comentários como
esse que você fez. Sabe de uma coisa? Ou sou muito inseguro em relação às
coisas que faço.
Como você cria um
solo?
Slash: Bem, eu sei que na
questão técnica eu sou limitado. Mas há uma dose de energia que eu coloco lá
para compensar isso. E tento fazer sempre algo bem com a minha cara, que as
pessoas ouçam e saibam que sou eu tocando.
Standing In The Sun
é uma das músicas de Apocalyptic Love que você escreveu há mais tempo, certo?
Slash: Na verdade, toda
elas já estavam escritas, mas essa é uma daquelas que a gente lembra...(risos)
Acontece que ela é curta e simples. Eu também já havia começado Apocalyptic
Love mas não tinha tido tempo de concluir.
Eu achei o riff da
introdução de No More Heroes lembra um pouco o de Sweet Child ‘O Mine.
Slash: Sabe por que você
teve essa impressão? Porque é o mesmo tipo de estrutura, um riff desenvolvido
em cima de um arpejo. Em todo desço meu acabo fazendo um riff assim. Para mim,
é como se estivesse tocando piano, eu gosto muito dessas frases criadas em cima
de um acorde dedilhado. Sempre curti muito esse tipo de frase. Em outra música
de Apocalyptic Love tem esse recurso. Ouça You’re A Lies e perceba como ela tem
um riff que é parte de um acorde digitado nota a nota.
Há guitarras
harmonizadas em Not For Me?
Slash: É uma guitarra só.
Que dizer, há duas guitarras nessa música porque Milys também gravou, mas na
parte que soa harmonizada é apenas a minha guitarra.
Essa música tem
muita guitarras limpas.
Slash: Sim, é isso mesmo.
Ela foi escrita num violão, mas eu não queria grava-la nesse formato, então
gravei com uma guitarra no canal limpo do amplificador.
As texturas da
guitarra foram gravadas pó Myles?
Slash: Exato. Ele usou três
instrumentos: uma Les Paul Junior, uma SG e uma Grestsh semiacústica.
Halo tem uma bela
introdução e se trasforma num riff pesado e com muito ‘groove’.
Slash: Eu adoro essas
introduções que parecem estar levando-o para algum lugar que você não sabe qual
é. Algumas delas são na verdade partes de estrutura da música, mas às vezes não
há relação nenhuma entre as duas coisas. Você começa construindo uma coisa e
ela se transforma em algo totalmente diferente.
Anastacia foi
gravada com violão com cordas de náilon?
Slash: Exato. E o inicio
eu toquei sem palheta, também. São linguagens musicais pelas quais de vez em
quando eu gosto de me aventurar. Há muito tempo, eu fiz um tema instrumental
para um filme (N.T o filme, de 1996, chamase “Cuedled – em português, “Eles
Matam e Nós Limpamos”; o tema com que Slash participa da trilha é Obsession
Confession). Nessa música espanhola em geral. Na época do Guns N’ Roses, também
usei essa escola na parte final de um tema em que eu passo do elétrico para um
tema espanhol no violão. Eu sempre gostei muito de violão. Afinal, meu primeiro
instrumento foi um violão flamengo.
Em Bad Rain dá até
pra ouvir seus dedos se movendo nas cordas da Les Paul.
Slash: Há muitos momentos
em que é possível ouvir os dedos se movendo no braço do instrumento. Não é algo
que eu fiz de propósito, mas optei por deixar isso lá.
Shots Fired também
tem uma bela introdução.
Slash: Concordo. E também
tem um acorde de três notas que eu toquei sem palheta.
Vai sair um DVD de
Apocalyptic Love com MartiVision?
Slash: Sim, vai. Você
conhece esse sistema MatiVison?
Sinceramente, não.
Slash: Não se sinta mal,
eu também não conhecia...(risos) Foi meu empresário que me explicou o que é e
depois cheguei a ver isso funcionando. Você instala diversas câmeras cobrindo
toda área que quer filmar, possibilitando uma visão em 360 graus. É possível mover
essas câmeras, modificando os ângulos e mostrando canas aos lados, acima a
abaixo usando o mouse. É simplesmente impressionante! Eu vi um show da banda
Muse gravado com esse recurso. Você pode ir para o meio do publico, para trás
do guitarrista, acima da bateria e o que mais quiser. Então, vamos fazer o vídeo
assim em estúdio tocando todas as músicas do disco. Quem estiver assistindo vai
poder usar o mouse para ir para qualquer canto do estúdio.
No fim das contas,
você considera Apocalyptic Love uma continuação perfeita para Slash?
Slash: Acho que esse novo
disco nos levou um degrau acima. Na minha opinião, esses dois disco foram uma
grande jornada que me permitiram dar a cara pra bater e provar para mim mesmo
que eu sou capaz de fazer um trabalho como artista solo. Não tenho uma banda
para me atrapalhar. Talvez a palavra não seja essa, mas quando você está numa
banda, fica à mercê dela e de tudo que ela faz. Então é ótimo se ver livre
disso. Mesmo que hoje sejamos um grupo, posso fazer o que bem entender e isso é
muito legal.
Quando você ensaia
música do Guns N’ Roses ou do Velvet Revolver, você começa a se lembrar da
época em que elas foram escritas?
Slash: Eu não tenho esses
momentos que você pode chamar de ‘sentimentais’ ou alguma outra palavra que
defina isso melhor. O momento em que estou preparando um show não é exatamente de
relaxamento, é um a fase de muito trabalho e eu não costumo perder tempo
pensando nessas coisas.
Você costuma ouvir
guitarrista de outros gêneros musicais?
Slash: Paco de Lucia é um
músico que eu ouvir muito. Minha avó me mostrou o trabalho de Segovia – parece que
os avós querem muito que a gente escute Segovia... (risos) Mas ela também me
mostrou Les Paul, Chet Atkins e todo o pessoal dessa escola, e eu adorei. Não
foi algo imediato, já que naquela época eu queria ser um violonista de
flamengo, mas logo percebi o ‘feeling’ que havia naquela música. E quando você
fala de guitarristas de Rock, lá estão Ritchie Blackmore e Jimi Page. Esse são
caras que sempre tiveram talento para ir buscar coisas de outros estilos e
aplicá-los no Rock.
POR: Steven Rosen
FONTE:Entrevista publicada originalmente na revista Roadie Crew n° 161
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou? Sinta-se livre para deixar seu comentário aqui.