Nesse meio de ano você estará em turnê com o
Iron Maiden. Qual o show que os fãs de Alice Cooper podem esperar? Uma
apresentação completa ou apenas um apanhado de seus maiores sucessos?
Alice Cooper: Quando você é um convidado na turnê de outra
banda... Bem, vamos tocar cerca de uma hora, então vai ser algo bem rápido.
Vamos privilegiar os hits, é obvio, mas o principal é estamos ensaiando um show
repleto de energia. E vamos tocar no tempo que temos.
Mais ou menos como você fez num evento da
Harley-Davidson em Montreal, em janeiro último.
Alice Cooper : Sim, a mesma coisa. Tiramos boa parte da
encenação, como a guilhotina e coisas assim. Diferente de quando a gente é a
atração principal. O Iron se apresenta em dois ou três dias por semana, minha
banda toca cinco a seis. Então, vamos poder continuar fazendo nosso próprio
show na s noites livres, tocando uma hora e quarenta minutos. Nós não gostamos
de ter muitas noites livres...
Mas você também não gosta de fazer turnês
muito longas.
Alice Cooper: Costumo fazer turnês de cem shows em cem
cidades durante quatro ou cinco meses.
Mas essa solução que você encontrou de
misturar os dois shows foi interessante...
Alice Cooper: Sim, também achamos. A turnê de Welcome To
My Nightware teve 65 shows em 72 dias. Parece absurdo, mas quando você tem 27 anos você se sente indestrutível.
Só que hoje eu tenho 64 anos... Por outro lado, de certa forma tenho mais
energia hoje do que naqueles tempos, porque quando tinha 27 anos eu bebia
muito. Mas eu nunca deixei de fazer um show por causa disso. Na verdade, eu
nunca bebi no palco – bebia na minha em
geral, mas nuca no palco. Mesmo assim, todo mundo sabe que meu show atual tem
muito mais energia do que o que eu fazia naqueles tempos.
Você trouxe o guitarrista Rya Roxie de volta
à banda...
Alice Cooper: Foi uma mudança calculada. Estou trabalhando
com Orianthi a guitarrista que ficou conhecida por ter sido escalada para a
última turnê de Michael Jackson, que acabou não acontecendo por conta da sua
morte. Ryan Roxy estava trabalhando no seu próprio show. A outra guitarrista
estava com Tommy Henriksen e Chuck Darrie continua no baixo. Tenho que escolher
muito bem quem toca comigo, porque é necessário que os músicos recuem enquanto
acontece toda aquela encenação nos shows. Depois, quando isso acaba, eles podem
vir pra frente e serem rockstars... (risos) E nem sempre as pessoas entendem
isso. Eu preciso deles por vários motivos, até mesmo para não me sentir muito
inibido em cena. Mas consegui montar uma grande banda! Nosso baterista, Glen
Sobel, é um dos melhores que eu conheço.
Em Welcome 2 My Nightmare você voltou no
tempo e trabalhou com alguns dos músicos de sua banda original (o baterista
Neal Smith, o baixista Dennis Dunaway e o guitarrista Michael Bruce). Além
disso, chamou algumas pessoas que tocaram em Welcome To My Nigtmare, como os
guitarristas Dick Wagner e Steve Hunter. Muitos fãs se perguntaram por que você
não saiu em turnê com esses caras...
Alice Cooper: Chegamos a fazer alguns shows com eles...
Sim, como o Jagermeister 4D em junho do ano
passado...
Alice Cooper: Sim, chegamos a fazer uma três apresentações
com a banda original. Agora, nós perdemos Clen Buxton. Glen era nosso Keith
Richards. Então, foi uma perda irreparável. Steve Hunter entrou no seu lugar e
foi muito bem. Neal e Dennis ainda são Neal e Dennis. Mike (Michael Bruce) tem
problemas nos joelhos e é muito penoso para ele ficar longos períodos em pé.
Imagine o que seria para ele fazer uma turnê com shows seguidos de uma hora e
meia... Não acredito que fosse algo fisicamente possível. E não paro de
excusionar desde 1966. Estou em forma para tocar em mais cem cidades diferentes
porque eu sei como lidar com isso, mas se você fica trinta anos sem fazer um show
grande nem se lembra do quanto de energia é necessário para isso. O peso da
idade acaba falando mais alto, imagino. Veja, estou colocando isso e termos gentis
porque esse caras são grandes músicos.
É importante ser diplomático...
Alice Cooper: Se você não está acostumado a isso e nem
está em forma para encarar o desafio, duvido que seja capaz de encarar uma
longa tour.
Deixando essa questão de uma possível turnê
de lado, você levaria em conta a possibilidade de trabalhar novamente com eles
num futuro disco?
Alice Cooper: Oh, sem dúvida! Neal, Dennis, Mike e eu
somos os melhores amigos uns dos outros. Mesmo quando nos separamos, não houve
brigas nem processos na justiça. A única coisa que houve entre nós naquele
momento foi: ‘ Espero que aconteça tudo de bom na sua carreira.’ Neal queria
fazer um disco. Mike também queria , assim como Dennis. Todo mundo queria fazer
um disco, menos Glen.
Falando sobre Bob Ezrin (produtor que
trabalhou em vários discos clássicos de Alice Cooper é também produziu Welcome
2 My Nightmare). O que você acredita que ele trouxe ao som de Alice Cooper? Por
acaso seria o fato de ele conseguir capturar sua essência?
Alice Cooper: Quando nós trabalhamos juntos é o mesmo que
acontece com Tim Burton e Johnny Deep. Nós nos conhecemos profundamente. Eu
posso simplesmente chegar para ele e dizer: ‘Estou com uma idéia para um disco.
Não seria uma parte dois de Welcome To My Nightmare, seria um novo pesadelo de
Alice Cooper.’ Ele capta isso e desenvolve, nem preciso explicar muito. E a
essência tinha que ser exatamente essa, você sonha com coisas totalmente novas
a cada noite. Foi assim que resolvi criar um pesadelo novo para Alice. E a
tecnologia é um pesadelo para ele, assim como a Disco Music é ainda um pesadelo
para ele... Começamos a desenvolver essas idéias, de coisas que aborrecem
Alice. Um emprego das nove às cinco é uma coisa que o aborrece profundamente.
Depois, começamos a pensar em quem representa o mal no disco. Chegamos em Ke$ha
e eu disse ela: ‘Não queremos que você seja um personagem assustador; você vai
ser uma feiticeira, que é uma das representações da maldade.’ Foi então que
decidimos que ela cantaria uma Disco Music. Nós nos desafiamos um bocado nessas
músicas. Bloodbath Boogie Disco Fever tem todos os clichês que você pode
imaginar acabou ficando uma bela Disco Music.
Uma espécie de tapa na cara do gênero.
Você pretende continuar trabalhando com Bob
Ezrin?
Alice Cooper: Sim, sem dúvida.
Você já está preparando um disco para 2013?
Alice Cooper: Já começamos a pensar a respeito, sim
Pessoalmente, eu adorei o álbum. Fiz uma
resenha dele e atribui nota máxima. Gostei inclusive das ironias que existem nele.
Alice Cooper: Puxa muito obrigado mesmo! Bod é aquele cara
que acorda e começa a ter idéias para uma nova música. Quando ele acaba, sua
vontade é de aplaudir. No caso desse disco, eu adoro a forma como cada música
vai compondo a história toda.
Você fez uma participação no filme ‘Dark
Shadows’(Sombras da Noite) dirigido por Tim Burton. Assim como em outros
filmes, como ‘Waynes World’ (Quanto mais Idiotas Melhor), você interpretou
Alice Cooper.
Alice Cooper: Verdade... Eu cheguei a dizer a eles que eu
poderia muito bem interpretar o professor ou o pai do personagem nerd. Eu
adorei fazer o pai de Freddy em ‘Freddy’s Dead: The Final Nightmare’ (A hora do
pesadelo 6 – Pesadelo Final – A Morte de Freddy). Em ‘Suck’ eu fiz um barman
que na verdade era um vampiro. Esse personagem teve muitas falas e lá eu atuei
de verdade.
Seus shows são totalmente teatrais, não deve
ser complicado para você interpretar.
Alice Cooper: Em ‘Dark Shadows’, Alice era o personagem
perfeito para aparecer, Jonhny Deep está de volta no tempo a 1972 e a certa
altura uma garota fala que quer fazer uma festa. E a única forma de se fazer
uma festa valer apena naquela época era se Alice Cooper estivesse nela. Então,
ela fala: ‘OK,assuma sua porção Alice Cooper.’ E é ai que eu apareço. Johnny a
partir daí passa a se referir a mim como ‘Alice mulher’. É tudo uma grande
piada, emfim.
O mais legal é que o personagem como a música
de Alice Cooper ocupam uns bons dez minutos no filme. Inclusive, a música
Ballad Of Dwight Fry está na trilha.
Alice Cooper: E eles fazem toda uma conexão entre ela e o
contexto do filme. Tim Burton é um grande fã de música e tanto ele como Johnny
Deep disseram que queriam Ballad Of Dwinght Fry no filme. No fim Tim criou toda
uma situação em torno da música, que conta como a personagem acaba internada
num manicômio numa camisa de força gritando ‘I gotta get out of here’. Ele fez
um trabalho magnífico ao unir as duas coisas.
Voltando a música, queria saber mais sobre
seu novo DVD, The Strange Case Of Alice Cooper, que foi gravado ao vivo em San
Diego em 1979.
Alice Cooper: Eu voltei a ver esse show depois de trinta anos
porque queriam saber minha opinião sobre ele... Então, acabei me divertindo
muito ao assisti-lo, tinha me esquecido desse show. É muito engraçado! E muito
bom, também. Acontecia muita insanidade em cena, é muito divertido.
Você está feliz que ele saiu em DVD?
Alice Cooper: Claro! Há muito shows de Alice Cooper
gravados. E toda vez que sairmos em turnê, temos um show diferente. Esse aconteceu
para promover o disco From The Inside (1978). Como estou sóbrio hoje, estou
vendo um Alice totalmente diferente. E á um exercício interessante olhar para
trás e ver como foi aquela parte da sua vida.
E como você vê isso tudo?
Alice Cooper: Tem momentos em que eu pergunto: ‘Mas que
diabos eu estava pensando?’ (risos) Eu tenho certeza de que se pudesse voltar
no tempo e refazer aquele show, o faria com muito mais elegância. Seria algo
menos caótico e eu me preocuparia mais em cantar as músicas do que em atuar.
Naquela época, eu não estava na minha melhor forma física, tinha estado
internado e precisava voltar logo a trabalhar. Não estava num dos melhores
momentos da minha vida... Nem de longe eu me parecia com o que sou hoje, tanto
fisicamente como em termos de voz. Hoje, eu faria tudo de uma forma muito mais
suave.
Você disse que hoje está muito mais focado na
performance vocal. Hoje você é mais um cantor ou é um ‘entertainer’?
Alice Cooper: Quando parei de beber, cheguei num ponto em
que disse para mim mesmo: ‘ preciso me aprimorar como cantor.’ Sim, toda a parte
teatral continua lá, mas hoje eu cantor melhor e consigo alcançar todas as
notas. Eu tinha que cantar como no disco e só depois disso me preocupar coma
parte teatral. Em The Strange Case Of Alice Cooper eu estava voltando aos
palcos após um ano e parecia que eu queria recuperar o tempo perdido. É um show
OK. Tem atitude e ele é divertido. Mas, mesmo assim, eu faria tudo diferente
hoje.
É muito interessante assisti-lo hoje sabendo
o que aconteceu com sua saúde e como você entrou em forma ao longo de todos
esses anos, inclusive perdendo peso.
Alice Cooper: E depois ganhando peso de novo, porque é
assim que acontece quando você para de beber: primeiro, perde peso e depois
recupera-o. Deve ser porque você começa a tomar muito refrigerante.
A gente sabe que você gosta de assistir
àqueles filmes de horror feitos em Hong Kong. Tem alguma recomendação para nós?
Alice Cooper: Acabei de ver um chamado ‘Tokyo Shock’ e tem
um outro que se chama ‘Gothic Diane’, se não me engano... eu fico lá vendo de
boca aberta e pensando: ‘ Isso é inacreditável!’ A personagem está sempre com
um guarda-chuva e se veste como uma gótica. E, é lógico, ela mata setenta e
cinco pessoas nos primeiros dois minutos de filme! (risos) É um negócio que
chega à insanidade e é desses de que eu mais gosto (mais risos). Fico mais do
que feliz quando assisto a um desses.
Bem, muito obrigado. Foi uma honra entrevistá-lo,
já que sou grande fã seu há mais de trinta e cinco anos. Inclusive, o nome do
meio do meu filho é Cooper.
Alice Cooper: Puxa, quanta honra! Diga ‘oi’ pra ele em meu
nome e lembre que ele tem que arrumar o quarto...
Por Mitchi Lafon
FONTE: Matéria publicada
originalmente na revista Roadie Creaw n° 162
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